Breve histórico
Aurélio Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354, em Tagaste, importante cidade da Numídia (hoje norte da África). Iniciou seus estudos na escola da aldeia, e, mais tarde, seu pai o enviou para a cidade vizinha de Madura para continuar seus estudos. Entregou-se ao estudo de clássicos latinos e do grego. Foi para Cartago, capital da África romana, continuar seus estudos. Lá estudou dialética, retórica, música, geometria e matemática. Aos vinte anos, entrou na seita dos maniqueus. Com a morte do pai, voltou para Tagaste, mas logo volta a Cartago onde abre uma escola de retórica. Anos depois, foi para Roma e lecionou durante alguns anos. Em Milão sentiu uma profunda exigência de libertar-se da escravidão dos sentidos, e em sua ajuda veio a pregação do bispo Ambrósio de Milão. Uma crise definitiva o atormentou. Na vigília pascal de 387, no dia 25 de abril, Agostinho, recebe o sacramento do batismo. Voltou para Tagaste, e fundou uma comunidade de oração e contemplação. Tornou-se Padre e bispo de Hipona. Faleceu no dia 28 de agosto de 430.
O filho das lágrimas: o amor e as orações de Santa Mônica, sua mãe
Uma das bases sólidas na vida de Agostinho para seu processo de conversão foi a presença ativa de sua mãe, Mônica. Nascida em Tagaste, no ano 331, Mônica recebeu a educação cristã e vivenciou os seus valores no seio familiar. Casou-se com Patrício, um homem de idade avançada, pagão, e deste matrimônio tiveram filhos, entre eles, Agostinho.
Era uma mulher piedosa, que exortava Agostinho à prática dos ensinamentos evangélicos e das virtudes cristãs. Essa persistência de Mônica para que Agostinho aderisse ao cristianismo ficou marcada ao longo dos séculos na história da Igreja. “Minha mãe ignorava o perigo que eu corria, mas bem longe continuava a rezar por mim”, como reconhece o próprio Santo Agostinho.
“Não é fácil explicar o que ela sentia por mim: sofria muito mais agora ao dar-me à luz pelo espírito, do que quando sofreu as dores do parto natural. Não vejo como ela se recuperaria, se a minha morte, ocorrida em tais condições, tivesse ferido as entranhas do seu amor. E assim, para onde teria ido tantas orações, tão constante e ininterruptas, senão para junto de ti?”
Assim, vendo seu filho reclinado sobre as falsas doutrinas, esperava um novo parto: a sua conversão.
Juventude conturbada e inquieta
Em sua juventude, Agostinho encontrava-se imbuído em meio as paixões, gerando uma inquietação interior. Essa inquietação o levou há uma busca pela verdade, mostrando o desejo de possuir a sabedoria. Aderiu, então, à proposta maniqueísta porque ela oferecia uma sabedoria puramente racional. E este conhecimento com propostas racionais aquietaram o coração do jovem Agostinho e apontaram um caminho de salvação.
Contudo, durante sua permanência no maniqueísmo, Agostinho não superou seus questionamentos e novamente o anseio pela verdade fez com que ele se interrogasse, gerando dúvidas e passando por uma obscuridade do conhecimento. Agostinho diz: “Na minha ignorância, ficava perturbado com tais perguntas, afastando da verdade enquanto acreditava aproximar-me dela.” Essa inquietude do jovem de Hipona o acompanhou até sua idade adulta.
“Desandei longe de ti, meu Deus, e na minha adolescência andei sem teu apoio, tornando-me para mim mesmo um antro de miséria”.
Começou, então, a perceber que sua inquietude estava prejudicando a própria vida e que esta inquietude, que emanava de seu coração, era a sede pelas realidades eternas. O efêmero já não o satisfazia e cada vez mais mergulhava na busca da felicidade e da verdade, procurando um repouso para sua alma.
De Hipona a Milão: o encontro com Santo Ambrósio
Angustiado, Agostinho partiu para Milão, onde se encontrou com o Bispo Ambrósio. Percebeu nesse bispo, além de sua brandura na oratória, que o ensino de sua doutrina possuía indícios de verdade. Este contato com Ambrósio dava-se na Igreja, onde Agostinho encontrou-o com a Sagrada Escritura nas mãos, que tanto influenciou o seu futuro com sua oratória. Nas confissões relata: “Esse homem de Deus acolheu-me paternalmente e ficou feliz com a minha chegada, na bondade digna de um bispo. Comecei a estimá-lo […]”.
O Bispo de Milão com sua sabedoria influenciou o pensamento de Agostinho e o aproximou das Sagradas Escrituras, testemunho que ele mesmo descreveu:
“Alegrava-me ouvir Ambrósio quando, muitas vezes em seus sermões, recomendava ao povo a norma a ser escrupulosamente observada: a letra mata, mas o espírito comunica a vida”.
Agostinho aproxima-se de Ambrósio movido por sua curiosidade, seu desejo do conhecimento e pela intelectualidade do bispo. Uma vez próximo, a pregação na Catedral fazia aos poucos caírem todas as interrogações no coração de Agostinho, percebendo assim, um discurso coerente e sólido. Estava, então, dado o início de sua conversão definitiva.
O encontro com a Sagrada Escritura: a conversão definitiva.
No decorrer de sua vida, após ter o contato com os sermões do Bispo Ambrósio e as leituras dos platônicos e neoplatônicos, Agostinho começou a vislumbrar um novo caminho a ser percorrido. Essas influências dissiparam os danos intelectuais causados pelo maniqueísmo, porém seu coração não estava preparado para sua plena conversão. Ele precisa vencer os desafios dos desejos carnais e o orgulho intelectual. Precisava se revestir de humildade e pureza de coração, que são necessárias para encontrar a Verdade.
Desta forma, foi ter com Simpliciano, confessor do bispo Ambrósio, o qual o advertiu que para conhecer a Deus era necessário abandonar os resquícios mundanos e pensamentos que não levam à Verdade. Assim, Simpliciano apresentou o que faltava para Agostinho: o encontro com a Sagrada Escritura, sobretudo com as cartas paulinas.
Lancei-me avidamente à venerável Escritura inspirada por ti, especialmente à do apóstolo Paulo. Desvaneceram-se em mim as dificuldades, segundo as quais parecia-me, algumas vezes, haver contradições na Bíblia e incongruência entre o texto dos discursos dele e os testemunhos da lei e dos Profetas. Compreendi o aspecto único de sua fisionomia e aprendi a exultar com tremor.
Com a descoberta que o mestre de Hipona fez acerca da Sagrada Escritura, convertendo-se à fé cristã, percebeu que o imenso vazio existencial que sentia passou a ser preenchido pela felicidade e pela Verdade que é Deus. Através desta conversão, Agostinho entendeu que o bem que procurava deveria ser um bem imperecível, que realiza o homem, que é passageiro e imperfeito, e está contido na interioridade do próprio homem, como uma verdade profunda. Assim a vida do Bispo de Hipona é marcada por esta descoberta na sua interioridade e pela sua grande contribuição com escritos e pregações acerca desta vida interior, que perpetuam na Tradição da Igreja até os tempos atuais, como ensinamentos de perene valor.
“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem.”
*Todas as citações são extraídas da obra Confissões, de Santo Agostinho.